2. Ouvir vozes na infância
O ouvir de vozes, quando não se conhecem suas origens, pode ser uma experiência aterrorizante e amedrontadora do ponto de vista daquele que as escuta. Na infância, esse panorama se repete da mesma forma.
No entanto, a experiência ouvindo vozes, comprovadamente, pode ter origens diversas como, por exemplo, traumas e agressões vividas, não se encaixando no quadro de uma psicopatologia necessariamente.
Viver com as vozes não precisa ser algo negativo. Aprender a conviver e a entender as vozes pode ser o principal passo para que se possa olha-las com outros olhos e ouvi-las com outros ouvidos.
A proposta dessa mesa é justamente olhar essa experiência do prisma da infância, entendendo as vozes de acordo com essa perspectiva e também de acordo com a perspectiva dos parentes – elementos fundamentais dessa vivência ao lado da criança e do adolescente.
Novas práticas e maneiras de enxergar as vozes existem e estão aí para ajudar a mudar a realidade de quem as ouvem, sendo crianças, adolescentes ou mesmo adultos. As vozes podem ser amigas e ajudar a superar vivências traumáticas e afins.
3. Prevenção do suicídio de jovens: Explorando alternativas às abordagens padrão
Jennifer White: Penso que herdámos um quadro adulto para pensar no suicídio em geral, que aplicamos aos jovens. Isso baseia-se frequentemente, como se diz, na ideia de que os jovens são frágeis e não podem tomar decisões em seu próprio nome. Muitas vezes, as nossas intervenções podem tornar-se bastante paternalistas. Existe uma ligação entre esta dinâmica e a tendência para aplicar um quadro mais colonial quando se pensa no suicídio indígena.
Tenho estado certamente empenhada em esforços de prevenção de suicídios de jovens como este. Logo no início da minha carreira – provavelmente há 30 anos – íamos às salas de aula e entregávamos um pacote muito estilo ´standard´: aqui estão os sinais de aviso, aqui estão os fatores de risco etc. Memorizem estas coisas.
Havia um sentido muito bem delineado do que era permitido dizer, do que não era permitido expressar, e dos tipos de perguntas que eram permitidas. Havia uma narrativa muito clara: “Se você é suicida, você não quer realmente morrer”. Precisa de obter ajuda de um adulto de confiança, e este adulto de confiança irá conectá-lo com um profissional ou um perito que irá então intervir”.
4. Da vulnerabilidade social à vulnerabilidade psíquica: Uma proposta de cuidado em saúde mental para adolescentes
Entende-se que situações de vulnerabilidade social, contextos de violência e ambientes de conflito são fatores chave para o desencadear de problemas e dificuldades psicológicas, principalmente no que concerne a criança e ao adolescente.
A periferia, espaço diversas vezes excluído da agenda governamental, acaba sendo um terreno fértil para atividades prejudiciais a psique dessa faixa da população. Projetos são desenvolvidos visando afastar essas pessoas de situações de risco.
Por meio do cuidado preventivo, da brincadeira e de espaços “protegidos” da influência negativa direta, a criança e o adolescente podem ter um lugar para desabafar, crescer e compartilhar abertamente sobre suas dores e medos.
O objetivo da mesa é tratar dessas questões, visando ser um espaço para o pensar de projetos, soluções e melhorias no que concerne a vulnerabilidade social e suas consequências ao estado psicológico dos mais jovens.
5. A criança e o adolescente na agenda política da saúde mental brasileira: Inclusão tardia e desafios atuais
A inclusão tardia da criança e do adolescente na agenda política de saúde mental brasileira deu origem a desafios públicos no que diz respeito a implementação de medidas com esse fim.
Desde a criação dos CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) e mesmo de medidas buscando ampliar a interdisciplinaridade dos serviços, os mais jovens continuam sofrendo em decorrência do pouco tempo de existência de alguns serviços e da consequente falta de estrutura deles.
Mapear as dificuldades psicológicas dos mais jovens e preparar os profissionais para lidar com elas não se resume em tarefa fácil. Há muitos membros e trabalhadores das redes de saúde mental fazendo muito com o pouco que acabam tendo.
Por esses e outros motivos, a mesa se abre para a discussão do tema objetivando emitir luz sobre questões importantes dessa implementação - seja debatendo sobre os serviços ou falando sobre como pode ser feito o preparo dos profissionais da saúde pública para esses casos, por exemplo.
6. O Olhar sobre o Capsi - protagonismo da criança
Os processos de psiquiatrização e patologização da infância no percurso das crianças pelo CAPSi são percebidos nas diversas marcas impressas em seus processos de subjetivação.
Uma dessas marcas ocorre pelo processo de atribuição de um diagnóstico às crianças. Afirmar o lugar do CAPSi como agenciador de novos encontros configura-se uma estratégia para que outras experiências sejam possíveis.
O CAPSi é um lugar de encontro onde diversas instituições se cruzam, permitindo que o encontro das crianças se dê com cada uma dessas
instituições que atravessam as práticas, tensionando a noção de identidade infantil como uma entidade criança, imóvel e universal. Isso permite que a criança seja um campo de forças e intensidades, inventando a sua experiência com o sofrimento e as práticas de cuidado.
7. A desmedicalização da infância e a Gestão autônoma da medicação (GAM) e saúde mental infantojuvenil
No campo da saúde mental, o desafio da medicação encontra novos contornos na relação com o público infanto-juvenil.
Estes sujeitos são marcados historicamente por uma grave experiência de tutela, sustentada por uma tradição na qual a criança é vista como “incompleta” e “em desenvolvimento”. Como efeito, crianças e jovens tendem a ser ainda mais excluídos da negociação e decisão sobre o seu próprio tratamento (COUTO, 2004).
Assim, ao aproximar-se das questões que envolvem a gestão do cuidado e da medicação na saúde mental infanto-juvenil na Reforma Psiquiátrica brasileira, o grupo de pesquisa Fractal, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), trabalhou na proposição, entre 2015 e 2017, da Oficina da Palavra: um dispositivo de pesquisa-intervenção inspirado nos princípios da Estratégia da Gestão Autônoma da Medicação (GAM). Participaram da oficina crianças e adolescentes (usuárias de um Centro de Atenção Psicossocial Infanto-juvenil (CAPSi).
8. Abordagens envolvem as Famílias na Recovery do joven em Saúde Mental: Open Dialogue e estratégias
Todas as experiências descritas no tema “foco em rede” destacaram o impacto do envolvimento da família no tratamento. Todos os participantes valorizaram a participação da família no tratamento e a descreveram como ajudando a reduzir o estigma, mudando a dinâmica do poder, permitindo que os participantes se sintam compreendidos por suas famílias, e abrindo espaço para conversas que de outra forma não teriam sido possíveis.
A abordagem cuidadosa e colaborativa promovida pelo Dialogo Aberto permite um atendimento orientado à recuperação, centrado na pessoa e enfatiza a importância de ter a família e o apoio envolvidos no tratamento.
9. A construção da identidade de gênero na adolescência
No Brasil, a despeito das conquistas e avanços da Reforma Psiquiátrica no campo da Saúde Mental e dos Direitos Humanos, a abordagem da sexualidade, a prevenção das IST/Aids e a discussão de gênero entre os usuários dos serviços de saúde mental estiveram ausentes das reflexões acerca dos temas emergentes, urgentes e relevantes no contexto da luta antimanicomial.
Se entre adultos esses temas ainda são carregados de preconceitos e estigmas, como trabalhar essas questões entre crianças e adolescentes? Por que discutir sexualidade e gênero na infância e adolescência ainda é tabu? Qual é o papel dos pais, da escola e dos profissionais de saúde nesse contexto?
A educação sexual entre crianças e adolescentes continua sendo um grande nó a ser desfeito, principalmente nas sociedades ocidentais. É preciso superar o mito de que a educação sexual pode erotizar ou incentivar a iniciação sexual precoce de crianças e adolescentes.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), muito pelo contrário! A OMS já comprovou que, quanto mais informação de qualidade sobre sexualidade, mais tarde os adolescentes iniciam sua vida sexual e quanto menos informação, mais precocemente se inicia a vida sexual.
Porém, mais do que falar somente sobre sexo, precisamos falar sobre sexualidade, um conceito muito mais amplo, que se refere às vivências, descobertas de mundo, identidades, sentimentos, emoções, bem-estar, consciência corporal, entre tantos outros assuntos.
Assim, uma educação sexual bem orientada, respeitando o desenvolvimento psicossexual típico de cada faixa etária, é uma das formas mais eficazes para diminuir a vulnerabilidade de crianças e adolescentes diante de situações como violência sexual, gravidez e IST/Aids.
10 - Estratégias de cuidado na adolescência em relação ao álcool e drogas
O congresso vai apresentar o programa que reduziu consumo de drogas e álcool entre os jovens na Islândia.
A quantidade de tempo passado com a família é inversamente proporcional ao risco de um adolescente se expor a drogas como tabaco, álcool, maconha e cocaína. Essa é uma das premissas do programa que reduziu drasticamente o consumo de drogas na Islândia.
Em 20 anos, o programa Youth in Iceland [Juventude na Islândia] conseguiu reduzir de 42% para 7% o consumo de álcool entre jovens de 15 e 16 anos. No período de 1998 a 2018, a redução no uso de cigarros foi de 23% para 6%, e o de maconha foi de 17% para 7%. O sucesso ultrapassou as fronteiras da ilha europeia e já chegou a 28 países, entre eles Chile, Austrália, Portugal, Espanha, França, Itália, Holanda, Bulgária e Lituânia. Neles, o método é abordagem como Planet Youth [Planeta Juventude]. A palestrante Inga Dora vai falar mais sobre o projeto.