A autogestão está na base do institucionalismo francês, movimento de intervenção e análise crítica do poder hierárquico nas instituições (Baremblitt, 1994; Lapassade, 1977, 2007; Lourau, 1993, 2004). Para Lapassade (1977), a autogestão implica a derrubada do poder hierárquico estabelecido. Tal derrubada pressupõe a abolição do lugar do líder, do mestre, do gerente, ou do Estado, para que os grupos possam gestar suas próprias regras de funcionamento interno.
Lourau (1993), no entanto, fazendo especial menção a suas experiências de autogestão pedagógica, aponta as dificuldades de tal proposta, uma vez que toda vida cotidiana se passaria no terreno da heterogestão: "vivemos na heterogestão, o que nos aliena, nos priva de nossa autonomia, de nossa liberdade" (p. 22).
Nesse sentido, a derrubada da figura do gestor não é condição suficiente para abolir o exercício verticalizado do poder. Para Onocko –Campos et al., (2012), o trabalho na gestão deva visar a "produção de graus maiores de autonomia, criatividade e desalienação" (p. 123). Como pensar e propor a passagem de um gerir/gerenciar heterônomo (heterogestão) a um gerir/gerar voltado à ampliação da autonomia de um modo distinto das propostas autogestivas? E por quê? De acordo com Merhy et al., (1997), o espaço de intervenção da gestão no contexto institucional pode apresentar tanto a dimensão macropolítica de um programa esquadrinhado, pré-determinado e rígido quanto a polivocidade de regras e decisões geradas num plano micropolítico, no "espaço de autogoverno" que cada trabalhador inevitavelmente exerce no contexto institucional.
Conforme seja exercido, tal autogoverno pode favorecer ou dificultar a implantação de serviços implicados com a dimensão pública da produção de saúde.